Uma semente é mais do que um grão de vida.
É uma promessa, um segredo guardado na terra à espera do momento certo para despertar. No seu silêncio, carrega memórias de gerações, histórias de culturas e a possibilidade infinita do alimento que nos sustenta.
Em Sintra, como em tantos outros lugares do mundo, as sementes sempre foram passadas de mão em mão: dos avós para os netos, dos vizinhos para a comunidade. Cada troca era um ato de confiança e de continuidade. Mas, pouco a pouco, esse gesto simples foi sendo substituído por embalagens anónimas, sementes híbridas, dependentes de um mercado que uniformiza o que devia ser diverso.
Hoje, falar do ciclo das sementes é falar da urgência de resgatar essa sabedoria antiga. Guardar sementes significa guardar a liberdade de plantar o que é nosso, adaptado ao solo e ao clima que nos rodeia. Significa defender a diversidade que protege os ecossistemas e garante colheitas mais resilientes. Significa, sobretudo, honrar o ciclo da vida que não se fecha numa estação, mas que se renova de geração em geração.
Quando uma semente cai na terra, ela confia. Confia no escuro, na água, no tempo. Confia que haverá espaço para se tornar árvore, flor, fruto, alimento. E talvez possamos aprender com ela: confiar que, ao cuidarmos do ciclo, estamos a plantar também o futuro.
Imaginemos quintas em Sintra onde se criam bancos de sementes locais, hortas comunitárias onde as crianças aprendem a colher e a guardar, e redes de vizinhos que trocam pequenas saquetas com nomes escritos à mão. Esse é o gesto que alimenta não só a terra, mas também a cultura, a identidade e a esperança.
Porque cada semente é, no fundo, um pedaço de eternidade.
Um ciclo que não termina, mas que nos recorda que a vida, sempre, encontra maneira de continuar.